O Pantanal

 

O Contexto

O Pantanal é uma das maiores planícies inundáveis da Terra, sendo considerado Patrimônio Natural pelo Artigo 225 da Constituição Brasileira (1988) e Reserva da Biosfera pela UNESCO (2000). Planície sedimentar, com inundações periódicas, localiza-se no centro da América do Sul, com cerca de 147 km2, integrando a Bacia Hidrográfica do Alto Paraguai, que ocupa aproximadamente 500 mil km2 e é compartilhado pelo Brasil, Bolívia e Paraguai.

O relevo pantaneiro possui uma característica muito particular: a baixa variação na declividade do terreno. Assim, as cheias anuais ocorrem pelo extravasamento das margens dos leitos dos rios, que inundam os campos e secam quando os rios voltam a baixar. Em média, o tempo de trânsito das águas é de 5 a 6 meses, desde o Norte até o Sul. De outubro a maio ocorre a estação úmida, na qual ocorrem as enchentes. Já a vazante dos rios ocorre na estação seca, de abril a setembro.

Devido à sua localização, a vegetação pantaneira é um mosaico de diferentes ecossistemas, influenciada por elementos de quatro províncias fitogeográficas da América do Sul: Amazônica, Cerrado, Chaquenha e Atlântica. Com base em aspectos florísticos, pedológicos e das inundações, o Pantanal pode ser dividido de oito a onze sub-regiões (veja o mapa). Na fauna pantaneira são encontrados exemplares de animais ameaçados de extinção, como onça pintada, tamanduá-bandeira, cervo-do-pantanal, ariranha e a arara azul.

O Pantanal é considerado uma das vias mais importantes para as aves migratórias dos hemisférios Norte e Sul. Segundo dados da WWF World Wide Fund For Nature, o Pantanal possui 263 espécies de peixes, 122 espécies de mamíferos, 93 espécies de répteis, 1.032 espécies de borboletas e 656 espécies de aves.

No Pantanal sul-matogrossense os solos são de origem sedimentar, alternando áreas argilosas e arenosas de forma descontínua. Mas em 92,5% são solos hidromórficos (de área úmida), o que acarreta limitações à lavoura, pois os solos são inférteis, como também periodicamente alagáveis. (FILHO, Zebino. 1986)

A paisagem no Pantanal é composta por campos, salinas, cordilheiras, capões, corixos e vazantes. Por abrigar grande variedade de espécies vegetais, possui também ampla diversidade de animais. A dinâmica biológica do bioma está intimamente conectada  com os períodos de cheia e vazante, dando condições para a existência de uma rica biodiversidade.

No bioma habitam inúmeras famílias às margens do rio e em fazendas. Aos ribeirinhos, moradores das margens de rios, a pesca e coleta de íscas, tanto para subsistência como para venda, é a principal atividade. O trabalho nas fazendas é também uma realidade aos ribeirinhos, na qual a família se ausenta da presença de um de seus membros por um período de tempo devido à distância. As águas que cobrem vastas áreas durante muitos meses, impossibilitam a construção de estradas e dificultam o acesso ao município pelos ribeirinhos e pantaneiros. Como consequência, os serviços públicos têm dificuldade de chegar aos moradores da beira do rio, que isolados apresentam baixo desenvolvimento socioeconômico.

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Contexto Social

Em resposta às carências da população ribeirinha do Pantanal, identificadas em extenso estudo socioambiental realizado em 2006/2007, o Acaia Pantanal implantou em 2008 atividades socioeducativas voltadas à população residente na região compreendida entre a Baia do Castelo e a Serra do Amolar.

Caracterizam o contexto local a ocupação da região com moradias isoladas e distantes entre si, a dificuldade de transporte – dependente de embarcações individuais e cujo combustível representa elevado custo às famílias – e uma economia de subsistência baseada na pesca artesanal e na coleta de iscas para comercialização junto ao turismo de pesca.

Dificuldades observadas no estudo de cerca de 20 anos ainda persistem pois o difícil acesso à região, resultado da distância, do custo de transporte e de barreiras naturais às embarcações como plantas aquáticas e estreitos corixos, implica no isolamento da população local. Recentemente, mudanças na infraestrutura básica de energia elétrica começaram a ser alteradas a partir do programa Ilumina Pantanal, responsável por instalar mais de 500 placas de captação de energia solar. Entretanto, serviços essenciais de saúde, educação e assistência social continuam presentes de forma insuficiente e sem periodicidade definida.

Entretanto importantes mudanças também foram observadas neste período alterando a forma com que esta população se conecta e responde ao mundo à sua volta: acesso à telefonia móvel, incipiente mudança de perfil do turismo predatório de pesca para o turismo ecológico, nascimento de iniciativas de geração de renda não predatórias, e uma parcela de jovens ribeirinhos dando continuidade aos estudos e em vias de concluir o ensino médio.

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O Acaia Pantanal mantem-se presente no dia a dia da população ribeirinha, atuando junto às famílias e atores locais conjugando educação e proteção social como meios de assegurar o desenvolvimento integral dos moradores da beira do rio e contribuir para o desenvolvimento socioambiental da região.

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Fonte: FRANCO, José Luiz de Andrade; DRUMMOND, José Augusto et al. “Biodiversidade e ocupação humana no Pantanal mato-grossense – Conflitos e oportunidades”.


Contexto ambiental

A região do Pantanal corre perigo, principalmente pela degradação de nascentes e barramento de rios que fluem de áreas de planalto (cerrado) para a planície pantaneira. Segundo estudo da ONG WWF-Brasil, em parceria com a The Nature Conservancy e Centro de Pesquisas do Pantanal, ficou constatado que 14% da região pantaneira necessita de proteção urgente, por ser considerada essencial para o fornecimento de água e manutenção do ciclo das cheias. Metade da bacia pantaneira corre riscos ambientais considerados médios ou altos.

Cerca de 11% da bacia do rio Paraguai já estão protegidos. O problema é que esta área não está distribuída de forma adequada para proteger as regiões que mais fornecem água, ou, as mais ricas em biodiversidade. Vivem na região da Bacia do rio Paraguai cerca de 8 milhões de pessoas. As mais recentes alterações por que passa o Pantanal podem ser o mais típico exemplo do que se tenha modernamente das consequências desastrosas do mau uso que o ser humano faz ao meio ambiente e em especial aos recursos naturais.

Queimadas

Nos anos de 2020 e 2021 o bioma enfrentou graves queimadas. Iniciadas após anos consecutivos de altas secas, o fogo causou grande impacto. Dados da LASA/UFRJ estimam que 26% do bioma foi queimado em 2020 e 12,6% em 2021. A diminuição da área atingida de um ano para o outro pode ser atribuída, em grande medida, à ações da sociedade civil organizada e de órgãos governamentais para combater os focos de incêndio com maior prontidão. Após o incêndio de 2020 houve grande esforço em prol da formação de brigadas de incêndio em diversas áreas do bioma. Denominado “Programa Brigadas Pantaneiras”, encabeçado pelo SOS-Pantanal e financiado através de doações e da ação “Artistas pelo Pantanal”, iniciativa do Documenta Pantanal – parceiro do Acaia Pantanal – foi responsável pelo apoio à estruturação de 24 brigadas.

Muitos dos impactos ainda não constam em estudos científicos, contudo, através de relatos da população local é perceptível que o cotidiano foi alterado em consequência das queimadas. Fatores como a alteração da paisagem, a diminuição da incidência de animais silvestres, menor quantidade de pescado e iscas (principal fonte de renda da população ribeirinha), aumento de doenças respiratórias associadas à fumaça, extinção de corpos d’água e danos psicológicos relacionados aos eventos vivenciados são alguns dos elementos citados com frequência.

Atualizado em 21/09/2022







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